Paixonite

Se um dia deixar de me apaixonar por tudo e por nada, é sinal de que estou mais para lá, do que para cá! 😀

Trocando este pensamento por miúdos, e resumindo o essencial da ideia, sou uma pessoa de paixões fortes e fáceis. Talvez já não tão fortes como antigamente. Talvez com mais consciência, fruto de um amadurecimento que é tudo menos precoce – afinal, talvez já não tenha idade para isso. Mas, ainda assim, enquanto mantiver a capacidade de me entusiasmar por ideias, pessoas, momentos e expectativas criadas pela minha própria cabeça, será sempre sinal de que estou aqui – viva. Mais crescida, é certo, mas viva!

Tal como na música da “Gabriela, cravo e canela” – eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim e vou ser sempre assim.

Não há remédio que me cure, nem mesmo os prescritos pelo Dr. Bruno – ou pelo Dr. Nuno, já que não quero deixar ninguém de fora, ou não fizessem ambos parte da minha “mise en scéne” nestes últimos e atabalhoados tempos.

E ainda bem que assim é. 🙂

Luisa

Antes do sol se pôr…

Continuo apaixonada por aquele estado de “fim de tarde”.

O céu ainda azul claro, mas já raiado de laranjas e pincelado de finos tufos de algodão doce branco – um aqui, outro alí… A rua já um pouco mais sossegada, sem a azáfama da “hora do regresso a casa”. É o pronúncio do Verão, com os dias cada vez mais longos a chegar. Meu Deus! Quem é que pode “não gostar”?

A paz de espírito é isto: um fim de tarde! Uma languidez de sentidos e de silêncios, sem expectativas nem ânsias. O que se vê, é o que há e o que se tem, sem necessidade de se buscar outra coisa que seja.

E neste preciso momento é o que me basta!

Luisa 🙂

Mente sã, paciente feliz (ou é o que se pretende)

Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte.

Hospital de Santa Maria. Hospital de dia. Primeira consulta.

Todos nos recebem muito bem. É um acolhimento bastante amigável, fazendo jus à hospitalidade portuguesa, mas desta vez virada para nacionais. Ou seremos todos encarados como uma espécie de estrangeiros, apesar de partilharmos a mesma nacionalidade com eles? Por todas as salas, ou gabinetes, por onde passamos, a pergunta é a mesma: é recente? Descobriu há pouco tempo? Depois apresentam-nos um rol de opções e serviços, que, segundo as afáveis enfermeiras que nos fazem a triagem, estarão sempre à nossa disposição.

Entre triagens, conversas com nutricionistas e a espera para a primeira consulta com o director do serviço, aparece-nos outra simpática senhora, outro grande sorriso, que, uma vez que temos ainda algum tempo de espera pela frente, nos convida para uma “primeira conversa” – a psicóloga de serviço. E lá vamos nós, deliciadas com toda aquela atenção que nos dispensam naquele importante momento em que, ainda a medo, damos os primeiros passos no que, por si só, já é a nova etapa que mudará para sempre as nossas vidas.

Depois de dez minutos à conversa, conscientemente programados pela profissional, e ilusoriamente de alívio para a utente, fica a promessa de contacto para marcarmos mais uma sessão. Mas, antes que me esqueça, posso-lhe pedir um favor?  Importa-se de preencher este questionário? É anónimo, e de grande importância para nós, aqui no hospital. Claro que sim, não me custa nada!

E assim ficámos, a Doutora Sonia e eu.

Não só nunca mais nos contacta, como, na vez seguinte que nos cruzamos, a Doutora Sonia não nos reconhece, nem demora o olhar no nosso rosto por mais que uns breves segundos. Pergunto-me por vezes, caso não tivesse respondido aquele questionário repetitivo e por vezes sem sentido, ou tivesse dado ares de coitadinha, que vive num bairro social, pendurada num rendimento mínimo, em vez de ser classe média, com alguma formação académica, e que se esfalfa a trabalhar para viver condignamente, se teria havido uma segunda conversa.

Até compreendo que naquele serviço hospitalar específico, as psicólogas façam um papel similar às assistentes sociais, pelo que dêem mais atenção a quem se apresente como pertencente a uma classe social mais desfavorecida. Mas não teremos todos os mesmos direitos? Não lhes ocorre que uma conversa, de tempos a tempos, com um profissional treinado, ajuda a organizar as ideias de qualquer um, independentemente da sua condição social?

Neste caso, e se calhar infelizmente para quem ali anda, a questão não será propriamente psicossomática, mas uma palmadinha “psicológica” nas costas sempre dá outro ânimo!

Luísa

Retrospectiva

Não tinha intenção de voltar a falar de ti, nem aqui, nem em lado nenhum. Mas hoje permiti-me olhar para trás, que foi onde te deixei.

Julguei que estavas preparado para “salvar” o mundo, tal como eu, através de pequenas acções. Lembro-me perfeitamente de como amei o facto de teres participado na limpeza das florestas, ou, pelo menos, por teres tido essa intenção. Sabes que foi a primeira vez que realmente me senti próxima de ti? Talvez tenha sido essa a primeira faísca. Mas claro que não sabes. Nem fazes a mais pequena ideia…
Pensei que irias gostar de percorrer o mundo comigo – até porque estou na profissão certa. Na verdade, achei que iria aprender tanto contigo, tu que és um homem mundano, vivido e experimentado.
Acreditei piamente que caminhariamos lado a lado, os dois, numa epopeia só nossa, mas generosamente partilhada (e com orgulho meu, devo admitir) por todos aqueles que nos rodeassem. Acreditei sinceramente que espalhariamos uma espécie de “bem”, à laia de “boa vibe”, sem incertezas nem obstáculos interiores, apenas pela pureza de fazer aquilo que é certo.
Pensei em tantas coisas e fiz uma infinidade de planos. Acreditei em expectativas e subi a fasquia tão alto, que cheguei a perdê-la de vista.
E tu, senhor de ignorância seca e cega, própria de quem está ressabiado com a vida por tudo o que ela lhe deu e retirou, nunca deste conta de nada. Na realidade, nem conta de mim deste.
Não é Shakespeare que diz “mais vale amar e perder, do que não amar sequer”? Eu também gostava que, um dia, tivéssemos tido aquela sintonia de quem se ama em uníssono. Assim, talvez pudesse dizer que em dado momento fomos os protagonistas, quem sabe, de uma pequena grande história.

É tão estranho debitar estas palavras assim, com o mesmo desprendimento de quem já não sente encanto…

Luisa

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D. Odete, mãos de tesoura

Como diz a abençoada D. Odete, citando, segundo ela, um tal general italiano que não é o Mussolini: “mas que raio de país é este, que não se governa nem se deixa governar“? Pior que isto só mesmo a Grécia, efectivamente (esta parte já é um acrescento meu) 😀
Mas, convenhamos, quando tentamos remendar o mal dos outros, sem antes remendarmos o nosso, a coisa não pode dar bom resultado. É um facto!

“E quantas pessoas não vivem em condições miseráveis, na probreza extrema, cá dentro” – continuava a D. Odete, entrecortando as palavras com tesouradas no meu cabelo – nas ruas, sem casa, sem ter de comer, ou onde tomar banho, e andamos nós, digo os portugueses ou quem os representa, a passar papeis para virem os de fora!?! Errado! Está errado!” – e saltitando de um lado para o outro, safanão na nuca (a minha), razia na orelha (por enquanto também ainda minha) – “E dão-lhes casa, dão-lhes tudo. A democracia é isto. Querem fazer bonita figura lá fora, e não fazem o que devem na casa que é deles, e nossa pois, não acha D. Luisa?” – Trau! Desta vez, só acertou no brinco que me esqueci de tirar –  Então não era de obrigar quem vive na rua, a sair dela? Durante o dia, sim senhor, mas há noite obrigavam-nos a ir tomar um banhinho e a dormir dentro de portas, em algum sitio, sei lá, não era? – rodopia a  franja para a esquerda – “Mas não, a democracia não deixa! (Isto já está muito grande, o seu cabelo cresce muito depressa, mas, lá está, é fininho) Criam focos de doenças. Não é para ninguém, está a compreender, D. Luisa? Nem para eles, coitados, nem para nós. Não tenho razão, Dona?”

Tem sim, D. Odete, claro que tem. A democracia tem muitas lacunas que dificilmente serão preenchidas, precisamente por ser anti-democrático combatê-las.

E, minha querida D. Odete, creio que  a expressão correcta é: um povo que não se governa, nem se deixa governar. Mas numa coisa a senhora acertou – Julio Cesar (imperador romano) referia-se a um povo “nos confins da Ibéria”: os nossos antepassados, evidentemente. 😀

Quais cabeleireiros “low cost”, qual carapuça. Não troco a minha D. Odete, de tesoura dourada em punho naquelas mãos milagrosas, por nada deste mundo. 🙂

Luisa

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É mesmo aqui!

É aqui que  está o meu coração. Nestas pequenas coisas, tão simples como estar à mesa com pessoas de quem gosto. Como partilhar conversas, com mais ou menos interesse. Como passar um par de horas numa cozinha, à volta dos tachos, por entre golos de lambrusco, e a tropeçar nos restantes membros da família e amigos, que se juntam nesta altura. Na confusão da abertura das prendas, que são distribuídas em série e mal têm tempo de ser apreciadas e agradecidas.
Sou incorrigível! Por mais que ouça os outros dizerem que o Natal é para as crianças, eu continuo a considerá-lo uma das minhas épocas favoritas do ano.
É aqui que o meu coração gosta de estar.

Luísa

Feliz Natal

Deus escreve sempre direito, independentemente da orientação das linhas – não sei se me estou a repetir. Possivelmente sim, mas isso não me interessa nada, nem me impede de tornar a dizê-lo. Quantas vezes não reiterámos já uma ideia, uma frase ou até mesmo conteúdos? Acredito em Deus. Só não tenho é paciência para a lamechice dos homens…
Este ano, tenho apenas um desejo de Natal: “Confiança”. Volvidos tantos anos, parece-me que é a única coisa que nos traz verdadeiramente paz de espírito. Se calhar, no final do ano, vou repeti-lo também doze vezes, há medida que for empurrando as doze passas mal mastigadas pela goela abaixo, ao som das pretensas doze badaladas, saídas de um programa de televisão qualquer. 😀

Oh, oh, oh! Merry Christmas! 🙂

Luisa

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Alma de poeta (que não sou)

Ainda bem que os pensamentos não se ouvem. Assim, posso falar com quem quero, dizer o que me vai na alma, sem medo nem vergonha do que esse alguém possa pensar.
Estou farta de fazer papel de poeta, de alma escancarada. Pareço uma janela aberta, com vista directa para o terraço do meu interior mais recôndito.
Já chega. Deixem-me estar. Tenho de fazer o luto condignamente. Uma cerimónia fúnebre, daquelas que nos levam numa viagem até ao submundo de nós próprios, onde só existe silêncio. Paz. Preciso de ausência de som. Preciso de bloquear esta ligação directa que existe entre o meu coração e a minha cabeça, nem que seja apenas por um bocado. O tempo suficiente para descansar a ideia. Ou “as ideias”, que são muitas. Tenho de calar este grito constante por… Por quem não quero gritar.

Luisa

Sentido certo

Eu nunca me enganei. Gostaste de mim desde o primeiro dia.
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Gosto de cortar as curvas. Não, não ponho nada nem ninguém em risco. Faço-o em estradas solitárias ou largas, com boa visibilidade, de preferência com duas faixas de rodagem e um só sentido. 🙂

Luisa